Funciona assim: reuniões fazem parte da vida da gente, são ferramentas importantes na engrenagem corporativa. Especialmente quando são enxutas e produzem ou encaminham decisões. Destruir uma reunião significa adiantar as respostas, antecipar as soluções, acender a luz de verdade no recinto, tornar tudo o que viria a seguir inútil porque você já resolveu o problema que todos ali haviam vindo resolver. Destruir uma reunião é condensar em dez minutos matadores o que poderia durar duas horas de conversa. Destruir uma reunião é economizar o seu tempo e o tempo dos outros. Ou melhor: permitir que todos passem a investir tempo de divagação e debate na implementação de ações. Destruir uma reunião é passar mais rapidamente do discurso à prática, do imobilismo para a movimentação, da confusão para a clareza, da discórdia para o consenso, das palavras para os gestos efetivos. Não é fácil. E não é sempre que dá para fazer. Mas quando acontece é lindo.
O anti-herói nessa história é o cara que adora reunião.
Gosta tanto que prefere as improdutivas, porque duram mais. E contribui como pode para que seja assim. Esse é o criador de reuniões. O cara que gosta tanto dos problemas que se não houver um, ele o cria. Só para ter o gosto de tirar um monte de gente de suas rotinas e enfurná-las numa sala por horas a fio. Você conhece esse tipo: exatamente por não ter o que dizer, monopoliza a palavra. Ele não está no negócio de encontrar soluções – ele está no negócio de ouvir a própria voz. Quanto mais tempo ele ficar ali dentro, ensaboando, dourando, mastigando, tergiversando, menos tempo ele terá que empenhar lá fora, trabalhando de verdade. No fundo, o criador de reuniões quer palco e plateia cativa para o seu blábláblá – ele não é definitivamente do tipo que pega o fuzil e bota o próprio coturno na lama para liderar a próxima blitzbrieg sobre os adversários. Às vezes eu acho que o verdadeiro adversário é ele.
13.12.2014
Fonte: Manual de Ingenuidades – Autor: Adriano Silva